Criatividade
e Dinamicidade:
Uma
atitude positiva em sala de aula
Francislene
Aparecida Rodrigues da Silva
“Tenha em mente que tudo que você
aprende na escola é trabalho de muitas gerações. Receba essa herança, honre-a,
acrescente a ela e, um dia, fielmente, deposite-a nas mãos de seus filhos.”
Por atitude
global entendo a atitude pessoal que o docente leva a sala de aula, já que não
pode deixar de ser quem é quando cruza a entrada do recinto onde trabalha. Em minha opinião, uma das chaves para o
chamado êxito de um ensino tem que a ver com que seja fiel a si mesmo, antes
que uma metodologia ou um enfoque que, como sabemos, dependem de modas e de
outros interesses. Por isso defendo que a formação permanente não está sujeita
só a assistência a cursos, ainda que seja imprescindível. Para mim, a riqueza
que cada um acumula como pessoa, será o seu reflexo em sala de aula. Por isso
quero voltar às sábias palavras e propostas de Gianni Rodari (1977:202) quando
fala de que os mestres devem fazer para desenvolver melhor seu trabalho: “Pelo
menos uma coisa eu aprendi: que quando se tem algo a ver com as crianças e se
quer entender o que fazem e o que dizem a pedagogia não basta e a psicologia
não chega a oferecer uma representação total de suas manifestações, é
necessário estudar outras coisas, apropriar-se de outros instrumentos de
análise e de medida. fazê-lo como autodidata não mutila a ninguém. Ao
contrario.”
Palavra-Chave: Criatividade, Dinamismo e
Alegria.
A origem do espírito lúdico
Disse a psicóloga Luria (1980) que se
alguém não sente desejo, não tem motivação, não encara os desafios, diminuirá
em sua capacidade de atuar, inclusive diminuirão as ocorrências lingüísticas
que profira. Pensemos, então, nos alunos desmotivados ou nos colegas que não se
comunicam entre si.
Segundo, muitos autores, a motivação nasce
das necessidades não satisfeitas do ser humano, é dizer, de um estado de
carência, ou seja, para restabelecer a fase de equilíbrio (aquela na qual não
sentíamos essa necessidade) nos movemos à ação. Se estivermos satisfeitos com
nossas aulas, não perceberemos essas necessidades de estabelecer o equilíbrio
ante o estado de carência e não iremos até a ação que buscam outras formulas de
estar e atuar, de habitar nossa sala de aula.
Disse Fernando Savater(1999:141) que o ser
humano “habita” o mundo. Estende-se a continuação em explicar em que consiste
esse habitar.
“Habitar o mundo é atuar no mundo, e atuar no mundo não é somente estar
no mundo, nem mover-se pelo mundo, nem reagir aos estímulos do mundo. Nós
humanos não só respondemos ao mundo que habitamos se não que também vamos
inventando e transformando de uma maneira não prevista. Nossa espécie não está
fechada pelo determinismo biológico, mas está aberta e criando sem cessar a si
mesmo. Quando falo em criar, não estou me referindo a tirar algo do nada, mas
sim me refiro a atuar no mundo e a partir das coisas do mundo... porém mudando
em certa medida o mundo!”
Mudaremos agora esse “mundo” por “sala de
aula” e tudo segue sendo igualmente valido. Observe as seguintes reflexões:
• Nada do que sabemos ou temos feito
até o momento nos converte em seres “fechados”;
• Só se estamos vivos e sentimos
motivação, nós realizaremos a atuação;
• A atuação se apóia no que nos rodeia,
nas devemos aprender a olhá-los com outros olhos.
Sempre falamos da motivação de nossos
alunos. E se aplicarmos esses princípios a nós mesmos? Por que não partirmos da
interação com os alunos? Vamos pensar em um método onde todos se divirtam, onde
todos possam sorrir, se o professor se diverte automaticamente os alunos
também. Devemos chegar à sala com este objetivo incluso no nosso planejamento:
“Eu Me Divertirei”. A alegria trás a interação entre todos estes despertará a
curiosidade, daí farão perguntas, pararão para pensar, refletir e isso são o
fundamental: ensinar a pensar, a perguntar, a discutir e a expor a sua visão de
mundo.
O espírito lúdico implica em fazer
perguntas e buscar outras respostas, isso não significa que sejamos ignorantes,
apenas buscamos conhecimentos diante daquilo que é desconhecido ou pouco se
sabe sobre o assunto, sendo assim, usamos da nossa criatividade, pois nossa
mente está sempre disposta a fazer perguntas e receber informações.
Quantas surpresas desagradáveis podem ser
encontradas em uma sala que já está chata antes mesmo de começar a aula,
exemplos temos bastante exposta na mídia, até quando vamos deixar isso acontecer?
Devemos deixar de lado aquelas atividades repetitivas que aparece como
característica social, que aborrece (e muito), segundo Agnes Heller: “Os seres
humanos parecem perigosos quando estamos aborrecidos”, todos nós sabemos (porque já experimentou) o
paralisante que é essa sensação e só depende da força de cada um para saber o
que fazer para sair dessa situação de rotina, repetição e monotonia. Isso se
desencadeia por falta de estímulo que levamos nós e nossos alunos ao medo, a
decepção, ao sentimento de indefesa e de incapacidade. Diante dessa repercussão
negativa, cabe a nós docentes variar os nossos objetivos sendo mais criativo e
dinâmico, valorizando sempre a realidade de cada um, envolvendo todo o grupo e
descobrindo se o nosso aluno possui ou não impulsos e projetos, se podem
influenciá-los positivamente para aliviar o cansaço, evitar o medo, mostrar que
sim são capazes e sobre tudo, encher sua sala de aula, nossa sala de aula de
alegria e entusiasmo.
Dos poderes criativos da alegria
Santo Tomás de Aquino escreveu: “O homem
não pode viver sem algum prazer”. Parece que se não conseguirmos que em nossa
vida entre a alegria, a satisfação deixará de viver em términos humanos.
Quando estamos alegres, nem perguntarmos de
momentos, porque nos damos conta de que a realidade se transforma se enche de
cores, a alegria nos volta ativa, nos dá energia. Quando falo de novos
objetivos me refiro ao dinamismo, algo que trará a alegria para as suas aulas,
isso não quer dizer que deva agir como um palhaço, não, mas sim uma aula mais
prazerosa a todos com mais vida, animação. O lúdico nos ajuda muito nesse
objetivo, já que o aluno interage com maior naturalidade, ele se sente
desinibido para expressar-se, solta suas capacidades criativas, sem perder de
vista que pode fazer de forma consciente as regras, praticando o vocabulário
que necessita para expressar-se. Apesar de todas as vantagens expostas
anteriormente, ainda deparamos com situações de que não passa de um tampa
buraco, ou perca de tempo julgado por muitos educadores que vivem na era da
decoreba, repetição como forma de aprendizagem. No entanto, eu quero defender a
utilidade do lúdico, não só com algo concreto, se não como uma forma de
aprender, como forma de estar em sala de aula. É um meio de ensinar que deve
nos acompanhar como tarefa diária, porque, quando se joga, os erros ou o
fracasso parecem menos graves, alguém se sente menos culpado, porque jogando se
pode ganhar ou perde.
O porquê de uma técnica socializante?
O grupo representa uma amostra
da sociedade, e é através dele que nosso aluno deverá se preparar para viver
coletivamente, contribuindo com suas experiências e se beneficiando com as de
seus companheiros.
É vivenciando situações
de vida com o grupo que nosso educando estará se preparando para uma conduta
social adequada; é ainda através de um interagir com seus semelhantes que
estará formando uma consciência democrática, adquirindo uma visão libertadora,
reforçando a auto-estima. O ambiente social favorecerá aprendizagens altamente
significativas e variadas, tanto do ponto de vista Individual como grupal.
Todos sabem que viver é
fácil, conviver é que é difícil. Os trabalhos de equipe favorecem em muito o
desenvolvimento das habilidades de comunicação, participação, reflexão,
segurança, respeito mútuo, integração e tantas outras mais. Por isso registro
aqui técnicas socializantes de ensino-aprendizagem.
A escolha caberá ao
professor, que deverá levar em consideração os objetivos que pretende alcançar,
os pré-requisitos da classe quanto à maturidade, faixa etária, conhecimentos,
experiências, a adequação do local, número de alunos na turma, tipo de
liderança predominante no grupo, expectativas dos alunos e critérios de
avaliação.
Vai aqui um exemplo de dinâmica já criada e
específica para alegrar um pouco mais sua sala de aula:
a) DISCUSSÃO 66 OU PHILLIPS 66:
Objetivos:
Desenvolver a rapidez de raciocínio;
Permitir o uso da palavra a todos os elementos; - propiciar
organização no trabalho;
Desenvolver habilidades sociais.
Procedimentos:
a) Formação de seis grupos com seis elementos cada um. Cada grupo,
além dos componentes, deverá ter um coordenador e um relator.
b) O coordenador, após a organização dos grupos, informa:
Este processo de fracionar um grande grupo em pequenos grupos de
modo a facilitar a discussão foi descrito e difundido por J. Donald Phillips,
da Universidade Estadual de Michigan. É uma técnica de grupo e painel. Possui
esse nome por ser sua formação de 6 grupos, com 6 elementos cada um, com
duração de 6 minutos cada sessão.
c) Dinâmica:
Primeira etapa: 15 minutos.
Formação dos grupos, com escolha do coordenador e relator (3 a 4min.);
Apresentação das idéias dos participantes (1 min.), para cada um;
Apresentação do tema com considerações (5 min.);
Organização das conclusões (5 min.);
Segunda etapa: 10 minutos.
Organização dos participantes em assembléia (2 min.);
Disposição dos relatores em painel (2 min.);
Relatório das conclusões (1 min.) para cada coordenador.
Terceira etapa: 10 minutos.
Debate entre relatores e demais participantes.
A técnica socializante
permite ao professor constatar características individuais do pequeno grupo
como: Interesses, desejos, capacidade de verbalização, habilidades
Intelectuais, mecanismo de projeção, tipo de pensamento etc.
Avaliar o seu aluno
diante de uma atividade lúdica é algo extremamente único, pois é nesse momento
que você será capaz de observar a discussão dos dados, o qual é um momento de
liberdade de reflexão que influenciam cada ação realizada. Nestes momentos, o
educando pode explicitar seus pontos de vista sem estar necessariamente apoiado
por uma determinada teoria condutora, pois os resultados muitas vezes podem
apresentar-se de acordo com os objetivos propostos como também pode ir além das
expectativas esperadas. Diante destas técnicas e muitas outras que conhecemos,
devemos valorizar ainda mais cada uma e acima de tudo colocá-las em prática,
pois o objetivo é fazer da sua aula algo inesperado a cada dia, é como uma
caixinha de surpresa que a criança espera ansiosamente todos os dias, pois essa
caixinha a faz sorrir e se a sua aula é alegre, você está feliz, seus alunos
estão felizes, consequentemente a aprendizagem será 90% mais satisfatória.
Bibliografia:
FERRY, Gilles. 1974, A prática do
trabalho em grupo: uma experiência de formação de professores. Tradução de Leonel
Vallandro. Porto Alegre: Globo.
Heller, A., 1980, Teoria dos sentimentos
humanos. Fontanara. Barcelona.
Luria, A.R.,1980, Linguagem e consciência,
Rio de Janeiro: Brasport
Savater, F.1999, As perguntas da vida. São
Paulo: Cortez.